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Computador na 1ª infância: necessidade ou sedução?

Quem imaginaria um mundo hoje sem a presença do computador?
Como deixar de receber e enviar informações com uma velocidade que supera todas as ficções de poucos anos atrás? Que reinado magnífico se desenvolveu nesse segmento para perplexidade de cinquentões e sessentões que viveram boa parte de suas vidas sem esse recurso! É a era da informática, tão aplaudida e disputada em novas tecnologias que tenta substituir algumas práticas antes atributo exclusivo da condição humana, como por exemplo, a deliciosa “dança da conquista”: havia um primeiro encontro, um tilintar interno que acordava o interesse pelo outro; seguiam-se encontros “tête a tête”, muitas conversas, concordâncias e discordâncias, um calor crescendo no peito, a paixão em todos os seus tons e enfim, quem sabe, até o amor!
Nesse momento, muitos leitores estarão dizendo: mas isso é hoje perfeitamente possível, mesmo através do computador! É aí que, se apresenta, a nosso ver, um “mal-entendido”.
A “coisa” (computador) já se imiscuiu de tal forma em nossa vida invadindo nosso pensar (e também o SENTIR?) que está quase impossível discernir uma referência pensamental humana verdadeira, viva, daquele pensamento seco, morto, concebido com a participação da força maquinal em nós internalizada, sem pedir licença. Fica a impressão que é a mesma coisa, mas, absolutamente não é! O pensamento humano é altruísta – abdica da sua vitalidade (o cérebro não pode se regenerar) para captar o que vem do mundo externo através dos sentidos, nos colocando em “com-tato” uns com os outros e com a natureza. Aquilo que se forma por imposição do hábito é muito diferente. Vários autores, como Setzer W. (1998) nomeiam o pensar induzido pelo uso do computador (em excesso) como Pensamento Maquinal, o que corresponderia à substituição das analogias e representações mentais de um desenvolvimento neurológico “normal”, por um pensar equivalente à linguagem das máquinas. Essa linguagem é “mal entendida”, apresentando-se como adequada e cortejada por uma comunidade que equipara atitudes humanas às que se usa ao se lidar com computadores: se errar ou se não gostar, pode-se “deletar”, sem nenhum sofrimento ou aprendizado que advenha dessa circunstância. Pode-se assim, pautar as ações por essa simploriedade tecnológica que nem de longe tange a real complexidade que é lidar com o outro, com os relacionamentos, onde no mínimo, se contempla os dois lados, num contexto permeado de calor, que dá colorido aos encontros entre seres humanos. A velha e boa flexibilização, o ir e vir, você fala e eu escuto, guia de todo “real” encontro, tende a ser substituída por uma rigidez implacável aprendida mecanicamente e sem consciência (máquina não tem, nem dá consciência).
A sedução do computador é tal que pode confundir o que é um pensar próprio, humano ou um imposto pela máquina. Computador deve ser encarado unicamente como ferramenta de trabalho e não como o “Senhor” de nossas ações. Some-se a isso a crescente preocupação das escolas e dos pais em oferecer precocemente, antes mesmo da capacidade de abstração, esse recurso perfeitamente dispensável até os 12 anos de idade, segundo a Pedagogia Waldorf. (W.Setzer – Meios Eletrônicos e Educação - uma visão alternativa. Sp,2005).
Não podemos nos esquecer que a linguagem do computador é uma linguagem matemática (algorítmica) e mesmo somando 2 borboletinhas mais 2 borboletinhas, a criança estará trabalhando seu cérebro como se estivesse desenvolvendo um teorema, o que só é possível fisiológica e intelectualmente por volta dos 12 anos.
Antes disso, as forças vitais estarão voltadas para o término da estruturação dos órgãos internos que não nascem acabados no ser humano! Se observamos um bezerrinho, após mais ou menos 1h de nascido, já consegue deambular, ao passo que o bebê humano demora, em média, 1 ano para conquistar a faculdade do andar. Nos primeiros anos de vida, as forças formativas devem estar a serviço desse desenvolvimento que plantará a qualidade da saúde física pelo resto da vida de toda criança. Se houver desvios para o pensar, configurando uma intelectualização precoce, essas forças serão roubadas de sua vitalidade e isso terá conseqüências que afetarão seu desenvolvimento global neurológico, dificultando o aprendizado nas etapas subseqüentes.
Criança aprende tudo primeiro no seu próprio corpo; para isso precisa se movimentar, reconhecer seu próprio corpo, impregnar esse aprendizado conforme vai acontecendo a mielinização (desenvolvimento do sistema nervoso). Esse processo “registra” e “integra” através da repetição de movimentos, um modelo que será utilizado para todas as aquisições de aprendizados futuros. Portanto criança precisa aprender se movimentando: rolando, arrastando, cambalhotando, girando, pulando, correndo, etc.
É absolutamente dispensável qualquer outro tipo de aprendizado nesse período da 1ª infância, especialmente os dirigidos ao intelecto, incluindo-se a computação. Ademais o manejo do computador não necessita de um preparo tão longo!
Pais e professores talvez devessem empenhar esforços em aprimorar seu conhecimento sobre desenvolvimento sadio da criança em todos os níveis, valorizando um brincar coerente e adequado para cada idade – bem como a qualidade dos brinquedos, recursos portadores do fazer futuro e que devem estar carregados da intencionalidade ética, de verdade e sociabilidade. É brincando que se prepara o futuro. A criança precisa despertar suas potencialidades, primeiro a nível físico através dos sentidos: movimento, tato, equilíbrio, etc., coisas praticamente impossíveis de se vivenciar em frente a um computador.
Insistimos que a tempo certo, quando se tem já boa base de discernimento, essa ferramenta é extremamente útil e necessária em nossos dias – porém, talvez com menos volúpia e avidez com a qual ela é apresentada. Mais adequado seria dirigirmos investimentos em prol dessas informações oferecendo um conhecimento abrangente do desenvolvimento humano, especialmente em suas 1ª fases, onde se planta e alicerça grande parte do “vir a ser” de cada ser humano,municiando professores que ainda pouco ou nada sabem por exemplo das dificuldades, problemas e distúrbios de aprendizagem, que, em muitos casos, advém exatamente dessa inadequação desconhecida. A criança bem desenvolvida saberá se inserir, compartilhar e contribuir conscientemente com as transformações que a vida exige.
“Com-viver” é preciso! Refletir é preciso!

Dra. Elaine Marasca Garcia da Costa é médica especialista em Pneumologia pela SBPT
Epecialista em Alergia respiratória pela Universidade Napoli
Formação em Medicina Antroposófica pela Assoc.Bras. de Medicina Antroposófica.
Formação em Biografia Humana pela Assoc.Biográfica
Mestre em ciências da Educação pela UNIV. de Sorocaba
Presidente Nacional da Liga dos Usuários da Medicina e Terapias Antroposóficas
Coordenadora e docente de cursos de pós-graduação e extensão.
Diretora da Clínica Lucas Terapeuticum Desenvolvimento Humano.
emarasca@splicenet.com.br



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